Tornar-se
pais faz parte de uma jornada que necessariamente oferecerá aos cuidadores
oportunidades de crescimento e aprendizado. Isso quer dizer que, enquanto pais,
haverão situações complexas cujas quais será necessário lidar com
comportamentos desafiadores do seu filho.
Uma
das maiores causas para o comportamento desafiador é a falta da habilidade
infantil em determinadas fases da criança em expressar o que se está realmente
sentindo, e esses sentimentos acabam por se expressar através da birra ou do
comportamento agressivo. Em determinados contextos e em determinadas fases algo
que não é para ser estressante o é para a criança – enquanto um bebê de 10
meses é capaz de brincar de esconder-se ao tapar os olhos e divertir-se com
essa brincadeira, um bebê de 3 meses pode interpretar a simples “ausência” da
brincadeira como um abandono e começar a chorar pela sua falta.
Enquanto
pais, é possível ajudar a criança a lidar com as mudanças fornecendo apoio
adequado à sua idade, ensinando maneiras eficazes de comunicar suas vontades e
redirecionando comportamentos inadequados. Abaixo seguem alguns conceitos
essenciais para lidar com uma criança que apresenta comportamentos desafiadores.
Regrinhas de ouro
1. Mantenha
a calma.
Esse
é o primeiro passo diante de um comportamento desafiador. Um pai que expressa
raiva e frustração, mesmo que não tendo a intenção, pode acabar gerando medo e
ansiedade na criança e fazer com que a situação estressora se agrave e se torne
ainda mais caótica. Lembre-se: a reação emocional da criança tem relação com
uma necessidade dela que não está sendo obtida, e o mais calmo que você
estiver, mais fácil será para você reconhecer que necessidade é essa e como
responder adequadamente. Mostrar calma em situações de caos e briga também
transmite à criança segurança e reafirmação de que você está lá para ela.
2. Dê
instruções CLARAS e AFIRMATIVAS.
A
criança precisa saber exatamente quais as suas expectativas e mesmo quando
chateadas, elas tendem a responder de maneira mais efetiva quando você formula
uma instrução positiva ao invés de negativa. Por exemplo: diga ao seu filho
“Por favor, deixe a porta aberta” ao invés de “Não feche a porta”.
3. Seja
consistente nas palavras e Seja um Modelo consistente!
A
consistência é o elemento chave quando estamos modelando (ensinando) um novo
comportamento à criança – e comportamentos problemas também são modelados
(aprendidos) na medida e que consequenciamos esse comportamento como uma coisa
“boa” para a criança. Essa é a tarefa mais difícil para os pais realizarem, mas
a falta de consistência tende a gerar comportamentos-problema persistentes. Ser
consistente também é dar o exemplo – sabia que as crianças aprendem muito mais
através da observação do seu comportamento e da vivência da experiência própria
do que através do que você diz a ela? A consistência faz com que a criança estabeleça
uma relação de previsibilidade daquilo que irá ocorrer, dando à ela um
sentimento de que ela conhece o meio em que ela está inserida e o controla.
4. Esteja
atento para os sentimentos do seu filho.
Crianças
pequenas não compreendem por completo o que é que elas sentem, ou ainda não
possuem as palavras adequadas para expressar as emoções que sentem quando estão
tristes. Os pais devem fornecer ferramentas para que a criança aprenda a
interpretar o que sente. Para modelar respostas emocionais apropriadas, não se
esqueça de:
a) Reconheça
o que o seu filho está sentindo: Mande a mensagem de que você o vê e o escuta,
isso o ajudará a sentir-se seguro e menos ansioso. Isso poderá inclusive
reduzir a ocorrência de birras, pois a criança se perceberá compreendida.
b) Nomeie
as emoções e sentimentos: muitas vezes o seu filho não tem como descrever o que
sente devido ao estado de desenvolvimento em que se encontra e por ainda não
compreender a complexidade das próprias emoções. Ensiná-lo o que é a raiva ou a
tristeza pode ajudá-lo a se expressar melhor e a compreender aqueles que estão
ao seu redor. Dizer “Estou vendo que você está triste” quando a criança estã
chorando irá ajudar a criança a conectar a intensidade do que sente e o
vocabulário adequado para expressar essa tristeza.
5. Dê
limites – e seja criativo ao dá-los!
Regras
não foram feitas para limitar a criança, mas sim para prover uma estrutura que
ajuda a criança a encontrar o seu lugar na complexidade em que ela se envolve
(no colégio, em casa, na familia) e sentir-se mais segura. Use da criatividade
para ensinar limites para o seu filho, como ajudá-lo quando estiver chateado à
calçar-se ao cantar uma música, contar até 10 para que a criança crie coragem
de descer no escorregador, usar da fantasia ao dizer que os livros estão com
sono e estão pedindo para serem guardados para que eles possam dormir, dizer
que a criança tem o direito de brincar até a música do rádio parar de tocar
antes de sair de casa, etc.
6. Substitua
palavras por ações sempre que possível.
Ensine
sempre como ser consistente também através de ações: quando a criança não
estiver querendo fazer uma escolha direta, ou aparentar estar achando aquilo
que você está tentando pedir que ela faça muito complexo, lembre-se de:
Reconhecer as emoções dela (“Filho, você está triste porque gostaria de brincar
com seu ursinho, não é?”)
Oferecer
opções: (“Você quer voltar para
casa e ficar com o ursinho, ou você quer ficar aqui e escutar uma história?”) – perguntar até duas vezes, para
ter certeza que a criança compreendeu as alternativas que você ofereceu.
Dar o limite: “Eu vou te perguntar mais uma vez,
e se você não escolher a mamãe que escolherá por você: você quer ficar aqui, ou
quer ir pra casa brincar com o ursinho?”
Considerar a escolha da criança, que deverá estar dentro das possibilidades que você ofereceu, ou
escolha por ela. (“Estou vendo
que você está muito chateado para decidir, então eu vou decidir por você e nós
vamos para casa”). E cumpra!
Esse
método ensina a criança que ela tem sim, vontade, mas que em situações que ela
não quer controlar, você controlará por ela. Isso ajudará a criança no
desenvolvimento do seu repertório comportamental de resolução de problemas e a
prestar atenção na responsabilidade de cada decisão que ela tomará.
7.
Deixe também que as consequências ensinarão.
Se o
seu filho insiste em escolher algo que você sabe que será prejudicial para ele,
tal como não levar um brinquedo quando descer para encontrar com outras
crianças porque simplesmente não quer, deixe que ele se submeta a situação.
Quando ele estiver com as outras crianças e se perceber sem brinquedo, ajude-o
a perceber que haveria sido melhor se ele tivesse lhe ouvido e levado um
brinquedo também. Fazer com que a criança se exponha a consequências negativas
é necessário e o ensina a lidar com o desconforto gerado pela própria escolha.
Isso também o ajudará a prestar mais atenção na sua sugestão na próxima vez que
for descer para brincar!
8.
Crie um sistema de recompensa – e isso não significa dar presentes à torta e à
direita!
Comportamentos
positivos, adequados e adaptáveis da criança acontecem diariamente e precisam
ser reconhecidos ao longo do dia, e é função dos pais “flagrar” a criança
agindo corretamente e a recompensar imediatamente, seja através de palavras,
carinho, atentar e descrever o que a criança fez, assim como dar adesivos por
bom comportamento, seja criativo! Às vezes, um mero “que bom que você está
ouvindo a mamãe quando ela está falando com você” pode fazer com que a criança
atente melhor ao que você está falando durante uma situação de conflito.
9.
E quando a birra vier....
É um
resumo disso tudo: Reforce o limite, explique a regra e mantenha a calma o
máximo que puder – mostre que você sabe que ele está triste, mas que ele não
vai ter o que quer e explique as razões. Em seguida, redirecione para ajudá-lo
a se recuperar – comente sobre o cocô do cachorro na rua, o programa de tv,
continue aquilo que você esteja fazendo e lembre-se – quanto mais o seu filho
souber expressar por palavras o que o incomoda, menos serão os episódios de
tentar chamar atenção através de comportamentos inadequados.
Essas
dicas são fáceis de memorizar e ajudam não somente à lidar com o comportamento
desafiador, mas também desenvolvem a capacidade de resolver problemas das
crianças. Procure pensar nos seus problemas com seu filho e verificar que dicas
poderiam estar sendo implementadas – comece tentando implementar uma ou duas,
no que sentir que as domina adicione mais dessas tecnicas à sua rotina diária.
Gradualmente, você perceberá que a sua interação com seu filho melhorará.
Atente
e recompense para os sucessos do seu filho em lidar com o que sente e expressar
o que sente. Crianças pequenas podem variar de humor drasticamente de um
momento para o outro – podem estar super alegres por ter um picolé em mãos e em
seguida entrar em desespero porque o picolé caiu no chão. Sinais de que seu
filho está com dificuldades em lidar com as próprias emoções são quando:
· Ele
começa a chorar porque você não compreende o que ele fala
· Ele
diz não, quando na verdade queria dizer sim
· Ele
fica com tanta raiva que pode chutar, bater, morder ou jogar brinquedos
· Ele
não consegue utilizar um substituto – caso o pijama roxo esteja para lavar, ele
fica inconsolável por ter que usar outro.
· Ele
começa a espernear quando é frustrado em não conseguir o que quer de você
Sinais
de que a criança está evoluindo na maneira em que lida com os próprios
sentimentos e que devem ser observados e reforçados pelos pais são:
· Usar
palavras ou ações para conseguir sua atenção ou pedir por ajuda
· Falar
consigo mesmo reafirmando situações de medo ou frustração, como dizer “A mamãe
vem me pegar mais tarde” quando você o deixa na escola, o “Eu consigo construir
essa torre de novo se ela cair”.
· Quando
ele “atua” um evento estressante, como contar pro papai como foi a visita ao
médico.
· Usar
palavras como “Tô com raiva” ao invés de jogar coisas e bater.
· Diz
pro adulto a regra ou demonstra que se sente mal por quebrar uma regra, como
dizer “Não pode comer do chão”.
Autora:
Cecilia P. C. Ewart,
CRP:
11/06509
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