2 de setembro de 2015

Lidando com o comportamento desafiador da criança - Primeira Infância




Tornar-se pais faz parte de uma jornada que necessariamente oferecerá aos cuidadores oportunidades de crescimento e aprendizado. Isso quer dizer que, enquanto pais, haverão situações complexas cujas quais será necessário lidar com comportamentos desafiadores do seu filho.
Uma das maiores causas para o comportamento desafiador é a falta da habilidade infantil em determinadas fases da criança em expressar o que se está realmente sentindo, e esses sentimentos acabam por se expressar através da birra ou do comportamento agressivo. Em determinados contextos e em determinadas fases algo que não é para ser estressante o é para a criança – enquanto um bebê de 10 meses é capaz de brincar de esconder-se ao tapar os olhos e divertir-se com essa brincadeira, um bebê de 3 meses pode interpretar a simples “ausência” da brincadeira como um abandono e começar a chorar pela sua falta.
Enquanto pais, é possível ajudar a criança a lidar com as mudanças fornecendo apoio adequado à sua idade, ensinando maneiras eficazes de comunicar suas vontades e redirecionando comportamentos inadequados. Abaixo seguem alguns conceitos essenciais para lidar com uma criança que apresenta comportamentos desafiadores.

Regrinhas de ouro



1.    Mantenha a calma.
Esse é o primeiro passo diante de um comportamento desafiador. Um pai que expressa raiva e frustração, mesmo que não tendo a intenção, pode acabar gerando medo e ansiedade na criança e fazer com que a situação estressora se agrave e se torne ainda mais caótica. Lembre-se: a reação emocional da criança tem relação com uma necessidade dela que não está sendo obtida, e o mais calmo que você estiver, mais fácil será para você reconhecer que necessidade é essa e como responder adequadamente. Mostrar calma em situações de caos e briga também transmite à criança segurança e reafirmação de que você está lá para ela.





2.    Dê instruções CLARAS e AFIRMATIVAS.
A criança precisa saber exatamente quais as suas expectativas e mesmo quando chateadas, elas tendem a responder de maneira mais efetiva quando você formula uma instrução positiva ao invés de negativa. Por exemplo: diga ao seu filho “Por favor, deixe a porta aberta” ao invés de “Não feche a porta”.

3.    Seja consistente nas palavras e Seja  um Modelo consistente!
A consistência é o elemento chave quando estamos modelando (ensinando) um novo comportamento à criança – e comportamentos problemas também são modelados (aprendidos) na medida e que consequenciamos esse comportamento como uma coisa “boa” para a criança. Essa é a tarefa mais difícil para os pais realizarem, mas a falta de consistência tende a gerar comportamentos-problema persistentes. Ser consistente também é dar o exemplo – sabia que as crianças aprendem muito mais através da observação do seu comportamento e da vivência da experiência própria do que através do que você diz a ela? A consistência faz com que a criança estabeleça uma relação de previsibilidade daquilo que irá ocorrer, dando à ela um sentimento de que ela conhece o meio em que ela está inserida e o controla.

4.    Esteja atento para os sentimentos do seu filho.
Crianças pequenas não compreendem por completo o que é que elas sentem, ou ainda não possuem as palavras adequadas para expressar as emoções que sentem quando estão tristes. Os pais devem fornecer ferramentas para que a criança aprenda a interpretar o que sente. Para modelar respostas emocionais apropriadas, não se esqueça de:
a)      Reconheça o que o seu filho está sentindo: Mande a mensagem de que você o vê e o escuta, isso o ajudará a sentir-se seguro e menos ansioso. Isso poderá inclusive reduzir a ocorrência de birras, pois a criança se perceberá compreendida.
b)      Nomeie as emoções e sentimentos: muitas vezes o seu filho não tem como descrever o que sente devido ao estado de desenvolvimento em que se encontra e por ainda não compreender a complexidade das próprias emoções. Ensiná-lo o que é a raiva ou a tristeza pode ajudá-lo a se expressar melhor e a compreender aqueles que estão ao seu redor. Dizer “Estou vendo que você está triste” quando a criança estã chorando irá ajudar a criança a conectar a intensidade do que sente e o vocabulário adequado para expressar essa tristeza.

5.    Dê limites – e seja criativo ao dá-los!
Regras não foram feitas para limitar a criança, mas sim para prover uma estrutura que ajuda a criança a encontrar o seu lugar na complexidade em que ela se envolve (no colégio, em casa, na familia) e sentir-se mais segura. Use da criatividade para ensinar limites para o seu filho, como ajudá-lo quando estiver chateado à calçar-se ao cantar uma música, contar até 10 para que a criança crie coragem de descer no escorregador, usar da fantasia ao dizer que os livros estão com sono e estão pedindo para serem guardados para que eles possam dormir, dizer que a criança tem o direito de brincar até a música do rádio parar de tocar antes de sair de casa, etc.

6.   Substitua palavras por ações sempre que possível.
Ensine sempre como ser consistente também através de ações: quando a criança não estiver querendo fazer uma escolha direta, ou aparentar estar achando aquilo que você está tentando pedir que ela faça muito complexo, lembre-se de:
Reconhecer as emoções dela (“Filho, você está triste porque gostaria de brincar com seu ursinho, não é?”)
Oferecer opções: (“Você quer voltar para casa e ficar com o ursinho, ou você quer ficar aqui e escutar uma história?”) – perguntar até duas vezes, para ter certeza que a criança compreendeu as alternativas que você ofereceu.
Dar o limite: “Eu vou te perguntar mais uma vez, e se você não escolher a mamãe que escolherá por você: você quer ficar aqui, ou quer ir pra casa brincar com o ursinho?”
Considerar a escolha da criança, que deverá estar dentro das possibilidades que você ofereceu, ou escolha por ela. (“Estou vendo que você está muito chateado para decidir, então eu vou decidir por você e nós vamos para casa”). E cumpra!

Esse método ensina a criança que ela tem sim, vontade, mas que em situações que ela não quer controlar, você controlará por ela. Isso ajudará a criança no desenvolvimento do seu repertório comportamental de resolução de problemas e a prestar atenção na responsabilidade de cada decisão que ela tomará.


7. Deixe também que as consequências ensinarão.

Se o seu filho insiste em escolher algo que você sabe que será prejudicial para ele, tal como não levar um brinquedo quando descer para encontrar com outras crianças porque simplesmente não quer, deixe que ele se submeta a situação. Quando ele estiver com as outras crianças e se perceber sem brinquedo, ajude-o a perceber que haveria sido melhor se ele tivesse lhe ouvido e levado um brinquedo também. Fazer com que a criança se exponha a consequências negativas é necessário e o ensina a lidar com o desconforto gerado pela própria escolha. Isso também o ajudará a prestar mais atenção na sua sugestão na próxima vez que for descer para brincar!

8. Crie um sistema de recompensa – e isso não significa dar presentes à torta e à direita!
Comportamentos positivos, adequados e adaptáveis da criança acontecem diariamente e precisam ser reconhecidos ao longo do dia, e é função dos pais “flagrar”  a criança agindo corretamente e a recompensar imediatamente, seja através de palavras, carinho, atentar e descrever o que a criança fez, assim como dar adesivos por bom comportamento, seja criativo! Às vezes, um mero “que bom que você está ouvindo a mamãe quando ela está falando com você” pode fazer com que a criança atente melhor ao que você está falando durante uma situação de conflito.

9. E quando a birra vier....
É um resumo disso tudo: Reforce o limite, explique a regra e mantenha a calma o máximo que puder – mostre que você sabe que ele está triste, mas que ele não vai ter o que quer e explique as razões. Em seguida, redirecione para ajudá-lo a se recuperar – comente sobre o cocô do cachorro na rua, o programa de tv, continue aquilo que você esteja fazendo e lembre-se – quanto mais o seu filho souber expressar por palavras o que o incomoda, menos serão os episódios de tentar chamar atenção através de comportamentos inadequados.

Essas dicas são fáceis de memorizar e ajudam não somente à lidar com o comportamento desafiador, mas também desenvolvem a capacidade de resolver problemas das crianças. Procure pensar nos seus problemas com seu filho e verificar que dicas poderiam estar sendo implementadas – comece tentando implementar uma ou duas, no que sentir que as domina adicione mais dessas tecnicas à sua rotina diária. Gradualmente, você perceberá que a sua interação com seu filho melhorará.


Atente e recompense para os sucessos do seu filho em lidar com o que sente e expressar o que sente. Crianças pequenas podem variar de humor drasticamente de um momento para o outro – podem estar super alegres por ter um picolé em mãos e em seguida entrar em desespero porque o picolé caiu no chão. Sinais de que seu filho está com dificuldades em lidar com as próprias emoções são quando:
·         Ele começa a chorar porque você não compreende o que ele fala
·         Ele diz não, quando na verdade queria dizer sim
·         Ele fica com tanta raiva que pode chutar, bater, morder ou jogar brinquedos
·         Ele não consegue utilizar um substituto – caso o pijama roxo esteja para lavar, ele fica inconsolável por ter que usar outro.
·         Ele começa a espernear quando é frustrado em não conseguir o que quer de você

Sinais de que a criança está evoluindo na maneira em que lida com os próprios sentimentos e que devem ser observados e reforçados pelos pais são:
·         Usar palavras ou ações para conseguir sua atenção ou pedir por ajuda
·         Falar consigo mesmo reafirmando situações de medo ou frustração, como dizer “A mamãe vem me pegar mais tarde” quando você o deixa na escola, o “Eu consigo construir essa torre de novo se ela cair”.
·         Quando ele “atua” um evento estressante, como contar pro papai como foi a visita ao médico.
·         Usar palavras como “Tô com raiva” ao invés de jogar coisas e bater.
·         Diz pro adulto a regra ou demonstra que se sente mal por quebrar uma regra, como dizer “Não pode comer do chão”.



Autora: Cecilia P. C. Ewart, 

CRP: 11/06509


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